UMA PEQUENA FICÇÃO DE DOMINGO
Era uma vez um miúdo hiperactivo.
Acordava de vinte em vinte minutos com ganas de ver sombras na parede.
Torcia o pescoço para ver tudo à sua volta.
Tirava o lençol e os cobertores das pernas com pequenos e fortes pontapés.
Agarrava a chucha para fazer sons inacreditáveis que se assemelhavam a cânticos ciganos com um pouco de fado à mistura.
Tudo se esperava desse miúdo.
Que crescesse depressa e bem, que fosse inteligente, porventura doutor ou arquitecto, pianista, de boa índole, com bom carácter e recto.
Ele, por ora, só se interessava em sombras na parede e em que dançassem com ele ao espelho. Ria-se que nem um miúdo se ri. Soltava gargalhadas.
Porque as cólicas já tinham passado tinha um misto de tranquilidade adulta e de hiperactividade infantil.
Quando se chateava, torcia-se todo e tentava chorar, mas só conseguia ficar muito vermelho. Dava gritinhos quando não via os pais no ângulo de visão ou quando o punham no tapete de actividades com todas as músicas ligadas ao mesmo tempo.
Esse miúdo não imaginava, e ainda bem, tudo o que esperavam dele.
Bastam-lhe as sombras na parede e que dancem com ele ao espelho.
1 Comments:
Nada se espera dele, a não ser que seja feliz (... e, já agora, rico)!
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